Hoje, falaremos sobre três mulheres que conquistaram seus espaços no mercado de trabalho, fizeram e ainda fazem história. Sabemos que, apesar da luta e das conquistas até os dias atuais, que não foram poucas, as mulheres ainda enfrentam algumas dificuldades e preconceitos no mercado de trabalho, em especial nas profissões ocupadas majoritariamente por homens.
Jaqueline Goes de Jesus – cientista
Começamos por Jaqueline Goes, a biomédica brasileira que fez parte do time de especialistas que realizou o sequenciamento genético do primeiro caso de Covid-19 do país em apenas 48 horas, um recorde brasileiro que só foi igualado ao Instituto Pasteur, localizado na França. O acontecimento ganhou destaque no mundo e Jaqueline foi homenageada na Assembleia Legislativa da Bahia, virou uma boneca da Barbie e também personagem dos quadrinhos da Turma da Mônica.
“Com o tempo, percebi que represento outras questões que vão além da ciência. Eu sou mulher, nordestina, negra e ocupo uma posição de destaque que dificilmente vemos no Brasil” diz Jaqueline em entrevista para a BBC News Brasil.
Ela também contou sobre as dificuldades de fazer ciência no Brasil, por conta do pouco investimento na área. E sobre o fato de ser mulher e não ter tido referências científicas na infância. E afirma que: “Meu rostinho ficou conhecido por uma questão de facilidade de comunicação, mas existe uma equipe muito grande por trás de tudo.”
Leila Pereira – Presidente do Palmeiras
Por segundo, temos a Leila Pereira, presidente do clube brasileiro mais vitorioso da atualidade, que se tornou a primeira presidente mulher campeã internacional na América do Sul, depois do time receber o título da Recopa Sul-Americana, isso em pouco menos de dois meses desde sua entrada.
Leila contou em entrevista ao O Globo Esportes, que seu pai era médico e sempre se preocupou com a carreira e formação dos irmãos, mas que, se tratando dela, ele dava a entender que queria que ela fosse dona de casa, talvez pelo fato de que ele estaria sempre ali ao lado dela, mas que, em contrapartida, sua mãe sempre quis que ela trabalhasse.
“Sempre quis trabalhar, ser independente. Nasci em Cambuci, fui criada em Cabo Frio e, com 17 anos, fui para o Rio de Janeiro para fazer faculdade. […] Cheguei a estagiar na antiga TV Manchete e, por incrível que pareça, eu era uma pessoa extremamente tímida. E aquilo me incomodava muito. E tudo que me incomoda, me faz crescer. Eu sempre quis e quero superar as minhas limitações. ” afirma. Também comentou sobre a importância do marido José Roberto, que sempre acreditou na capacidade dela e que isso foi essencial para que ela pudesse acreditar e entender que é capaz.
Por fim, contou que chegou ao Palmeiras como patrocinadora em 2015, e que se ofereceu para ser patrocinadora do time através do SAC, pois não tinha o contato do Palmeiras, e acharam que era trote. Mas, em momento algum pensou no retorno financeiro, entrou no time só porque gostaria de colaborar, juntamente ao seu marido. Contou também que tem projetos para investir no futebol feminino e sobre o machismo que sofre, ela acredita que as pessoas não aceitam o fato de ter uma mulher com tanto poder dentro de um time, diz que é pressionada pelos torcedores por conta de seu gênero, mas afirma: “Só que quem tem a caneta sou eu”.
Aline Borguetti – piloto de avião
E por último, mas não menos importante, temos a história da primeira mulher a pilotar o maior avião de passageiros do mundo.
Aline Borguetti veio de família humilde e começou a trabalhar com apenas 14 anos. Fazia curso de turismo, e um dia sua professora disse que ela tinha perfil de comissária de bordo, pouco tempo depois ela iniciou na área, em voos para a América Latina e algumas ilhas caribenhas. Durante a viagem, os comissários tinham muito tempo livre, e como ela gostava bastante da parte técnica, entrava na cabine e ficava conversando e perguntando aos pilotos sobre aviação, e se apaixonou pela profissão.
Até que um dia, foi com um amigo instrutor de voo para um aeroclube, onde fez seu primeiro voo e descobriu que era aquilo que ela queria. Então foi atrás de um curso de piloto privado, porém, percebeu que seus colegas formados que não falavam inglês, não eram contratados, então ela trancou o curso, pediu demissão e foi fazer um intercâmbio de inglês na Austrália, com apenas 500 dólares. Lá, ela trabalhou em várias áreas como faxineira, garçonete, etc., e juntava todo o dinheiro que podia. Após um ano, voltou para o Brasil, ainda como comissária, mas com a certeza de que queria ser piloto. Para juntar o dinheiro do curso de aviação, a comissária deu aulas de inglês em escolas de aviação.
“Em 2017, fui aprovada em uma seleção da Hong Kong Airlines, pilotando um Airbus 320 e depois um A330, de passageiro e carga, pelo sudoeste asiático. Foi uma experiência enriquecedora, porque a cultura asiática e a brasileira são muito diferentes, um choque de realidade, comida, costumes, idioma, enfim, mas você aprende a se virar. E como uma piloto foi desafiador sair da sua zona de conforto, pilotar outro avião, em outro continente, falar um inglês técnico” disse Aline em entrevista ao uol.
Após a companhia entrar em crise, Aline e outros pilotos foram demitidos, ela fez um teste para a Emirates e foi aprovada como copiloto. Ressaltou também que dos 2.200 pilotos, apenas 40 eram mulheres, e apesar de não ser a primeira mulher piloto, é a mais jovem. Mas claro, contou que sofre preconceito por ser mulher na área, que as pessoas olham estranho para ela, não acreditam em sua capacidade e que já até ouviu ‘devia estar pilotando fogão, e não um avião’, mas ela afirma que não liga para isso, pois é tão apta quanto um homem dentro da cabine.
E essas foram as histórias incríveis de mulheres que conquistaram seus lugares, apesar de toda luta e todo preconceito, também encorajam outras mulheres a seguirem seus sonhos e conquistarem seus espaços, seja na ciência, no futebol, na aviação ou onde for, lutam por igualdade e não desistem de seus sonhos, por mais desafiadores que sejam.